sábado, 27 de dezembro de 2014

INCONSCIENTE

E eu que nunca entendi de tempo
Eu te quis no meu tempo.

Nunca me encaixei no tempo das coisas
Sempre no espaço entre:
Tentando ser, alcançar uma coisa ou outra...

Mas te senti MEU.
Como um resgate do tempo que perdi.

E já veio assim todo pronto
Gostando de tudo quanto me afeta
Vibrando a mesma sutileza e ternura
Das notas d'um violoncelo.

E meu coração quase morto
Absorto
Revivido
Saiu de mim
Se materializou volátil
Neste campo magnético
Que de tão táctil 
fez-se tato
E saiu de mim
Me abandonou para ser mão
E te encontrar
Te tocar
Com a mais radical, intensa e gentil delicadeza dos anjos
Pétala que suavemente desliza e se entrega ao beija-flor
Vento sublime
Perfumes
Poesia riscando o espaço
O laço
Se formando
Desenho de Deus...
Sim, eu te vi meu.

E repentinamente acordei sem este sol
Era noite e frio me doía ossos e medos
Tímida, ainda solfejei qualquer apelo:
Só o VÁCUO a me responder com o eco de seu hálito frio.

Envergonhada, ensimesmei-me de novo
E hesitante, lentamente fui voltando ao lugar inóspito
Mudo, surdo, cego, insosso e vago
De onde eu não deveria ter saído
E para onde os sonhos nunca miraram.

Juliana Ponciri. Brasília - Brasil, 23/12/2014.

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