quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um outro sangue é possível

Ah sim! Veja-me pois!
Até eu que busco a soberania da plenitude
estou batendo ponto no tempo e espaço deles...

Presa às grades e edifícios frios do sistema,
calo a poesia que transborda e que procura desesperadamente abrigo.
Ainda guardo cá dentro o poder do sol do passado e do futuro
assim, fazendo suportável o presente.
Este sol é meu fim:
ele me habita com suas paisagens ricas e imensuráveis
de tons que vão do laranja ao azul anil
que, misturando-se à este matiz-carne que sou
explode num arco-íris de vastidão infinita para dentro:
Luz, cor e calor!
sou vida, ainda que morte
sou riso, ainda que corte
sou ternura, ainda que dor
sou nostagia, ainda que realidade
sou esperança, ainda que saudade
sou essência, ainda que espetáculo
sou eco, ainda que buraco
sou poesia, ainda que métrica
sou fé, ainda que cética...

Metida na simbiose hipócrita de suas "normas" e números
vou criando meu meio, minha e tão minha lei marginal
sub-escrita no meu verbo de dentro
E alimentada por este olho paralelo
- necessário estrabismo -
Privilegiado lugar: as margens são mais que torres
daqui se vê o movimento de todas as peças
ainda que eu ande retilíneamente...
dança sem lógica, melhor, na lógica dele: o sistema
de pensar que engendro esta loucura
xadrez de ninguém
teatro desvairado de nadas absurdos
desfile dark pomposo, sofisticado e... maquiado.

De que cor é tua máscara de hoje?
Serve-me pois nesta taça um pouco de teu suor amargo
Vinho decorrido de séculos caninos
Condensarei, domesticarei e venderei na bilheteria do diabo
rentável comércio de valor!

Voltarei de hastes erguidas desta viagem absorta
Cantarei teu verso em tom maior
- menor, bem menor sou eu -
serei tua fábrica de sonho
E também da chuva lhe falarei.

Cálido passo que cái com a tarde
Tudo arde quando as portas se abrem e me expando
Sou tudo e nada plasmada ínfima e majestosamente
Ubiqüidade maior, cósmica, pássara
Respirar de células e líquida
Da suposição de que me olharas e me querias
Um corar de faces latejantes que olvidara que o sangue inda era possível
Fumejar de asas ressonantes a salientar vida
guardo-as no senso, na timidez, na...

guardo-me.

Juliana Ponciri, 28 de outubro do ano de 2010.

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