Lacerou-me agora uma saudade de nem sei quê...
Saudade... palavra tão carregada de mito, ausência, sentimento, sentido...
Sentindo-me...
Sentir é pensar?
Acho meu corpo tão filosófico... metafísico.
Ele questiona, reclama, supõe tanta coisa.
Ele não conhece o não.
Para ele não existe obstáculos,
e, nisso, ele transcende o meu pensar.
Meu corpo é Deus.
Porque ele é o verbo primeiro e último.
Alfa e ômega.
Meu corpo desconhece o não-verbar.
Não existe não-ação, inércia ou mesmo dúvida nele.
Ele já é sendo.
E comunica.
Mas eu sou tão iverossímil, tão projeção de não-mim
que leio todas as línguas, menos a dele.
Que me sabe mais que qualquer ciência, arte ou filosofias.
Eu não sei ler onde nasce a saudade, e do que é.
Meu desejo era mapear e sana-la num gole qualquer de nostalgia.
Cobrir-me do véu de Maia neste inverno de Brasília.
Noites frias... e as paredes mais ainda.
Caramba! eureka! a saudade nasce no corpo de fora.
Extensão dialética deste mesmo que agoniza de não-porques.
O som da saudade é forte. E livre.
livre som... reverbera para além do mensurável.
Sinto na pele sabor de passado.
Divago na vastidão de meus breus.
Acho o brilho da lua por companhia.
Coxa saudade que faz mancar des-linha que Moira alguma rabisca.
Sinto-me estúpida se transito para a outra margem: futuro.
Eu não perdoo as verdades que meu corpo denuncia.
Eu o sei sábio e, o respeito.
E por amor te preservo, te reservo, te reverso.
Avessa à minha - que é tua - própria vontade.
Tu, óh corpo, nasceste pra vida maior. É o recado que me deixas todos os dias.
Miro tua perfeição e possibilidade e rendo-me.
Verbo-carne sendo. mantendo. transcendendo.
Não me importo que brigues comigo corpo.
Eu não te mereço.
Só peço que o movimento de vida
que dança onipresente, oniciente, onipontente, onidirecional
jamais falhe em seu pulso.
Que seja latente, tudo.
Que seja latente, meu mundo.
Que seja latente... ainda que saudade.
Juliana Ponciri, 18 de junho de 2010, 03:03hs.
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