segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Chama

Dias de não-sendo... vou morrendo-me por dentro...
E eles vivem lá foras seus argumentos...

Cá dentro eu absorta em meus sentidos entorpecidos
Carregando esta ânsia de vômito nas veias:
Apressadas, apertadas, apartadas
Da volátil pero verdadeira vida que emana leite e mel
Este verbo-berro que vibra em meu sangue
Lateja uma ausência inexplicável
Meu ventre apela uma resposta
Como uma saudade do futuro que eu já tive
Tudo é náusea e vã filosofia
Porém, silenciar é morrer de pausa
Não consigo parar: de escrever, de pensar, de me ser.

À beira da loucura destes desacontecimentos
Sigo um cantar mudo e simulado e sufocado e desfalcado
Que escorrega nas notas fracas e nos tons desajustados
Não há harmonia, equilíbrio ou paz
A banalidade é monótona música de compassos viciados
- Mais do mesmo -

Mas é preciso soar
Qualquer dor latente... em tom menor que seja!
Engatinhando um verso qualquer
Carmim! Como flores! Carmim! Lírios!
Quero este verso! Quero cheirá-lo!
Dizer pro destino caminhando e caminhante: cá estou. Faça-se!

Nestes passos de desassossego
Vã esperança de desesperar o milagre
Já quero o simples
Qualquer singeleza notória que me arrebate
Que surja como a surpresa
Que eu sorria sem saber
Este riso interno que vem de não sei onde
Pelos olhos de não sei quem
Que emergirá não sei porquê
Sabedoria em não saber.

Eu sei que sinto o vazio
Este é o estágio interessante para se preencher
Vazio que cumpre a ordem dos dias
Livro macabro de paisagens mórbidas, áridas, secas
Deserticada estou, tudo é horizonte!
mas não me apavoro, sigo minha expansão até a linha inalcansável
onde eu me encontro
Nunca estou só
É ali na linha do caminho que eu me re-fugio
E que me re-gugito:
Tem horas que preciso me pôr pra fora
Porque o alimento dos dias comuns me embrulha
E quero e preciso ficar desnuda
crua, vaga, animalesca
Assim como a rua de um sonho
Paisagem onírica mutável e inovadora
Onde só toca e se aprofunda neste mistério pode participar
Onde etiquedas não podem entrar, nem serem penduradas.

É isso. Quero me pôr para fora em chamas
Como faz o Espírito Santo.
Ele sim poderia queimar-me em pensamentos
Destroçar qualquer lógica que é minha
e que reproduzo de outrem...
Reinaugurar-me!
Tornando-me gasosa e suave como o vento
Livre e voante
Que quando brincante, dançante, uiva como brisa da tarde
Ser uma ruiva uivante
Alada por dentro
Fóssil plasmado de mil séculos ancestrais! Abraão! Abraão!

Que falta pra tu vires Santo Espírito?
Vinde e faça-se.
Urgentifico-te. Vem!
Lança-te em meu corpo
Alçai em mim o teu vôo
Desintegra-me! Dilacera-me!
Como as árvores no cambio das estações
Trans-forma-me!
Cá estou rendida:
Seja-me-te voz!
Sussurra em mim o despertar da história
Salva-me! Salga-me! Salta-me!
Abismo quero ser
Caia-se pra dentro em mim!
Instaura a química que explodirá esta mesmice.
E fica. Comigo. Pulsante. Presente. Sempre.

Juliana Ponciri, 14 de setembro de 2010.

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