sexta-feira, 3 de junho de 2011

Das mentiras que contamos a nós mesmos

(A vantagem do homem em relação aos anjos é viver para aperfeiçoar-se)

E o destino vem brincalhão e faz-te parar:
E ante a ti a pessoa que encerra todo teu conceito de belo
Aquele que aprendeste quando criança
Quando tu olhas os passarinhos, danças na chuva,
Beliscas o irmão ou amigo mais novo só para dizer-lhe especial

Tudo fica diferente, sóbrio, feliz, irmanado
Pela sinfonia desta identificação de vozes ante ao imenso coro universal...
Vocês sabem-se notas da mesma partitura
Se ouvem naturalmente e acoplam seus sentidos à mesma música
Compondo no mesmo tom acordes que se acordam unívocos
E que, interpondo-se uns nos outros, despertos, se complementam
E harmonizam o espaço-tempo do ser vivendo
Energia que espalha brisa e paz e calma a tudo tudo quanto os cerca.

Inegável fenômeno que irmana
Posses que despossuídas se identificam oriundas do mesmo cerne
Momento mágico, tenro, precioso, belo, sublime
Onde almas não precisam de rascunho para dialogarem
Chaves que antepõe a comunicação lógica
Complementos livres da coisa mesma que se encaixam
Imediatitude que jaz e que é em sua forma mais pura e plena
Como uma faixa cor de luz celeste que perdida no cosmo reconhece seu lugar
E que, pousada no arco-íris agora completo, se sente parte
Abraço de graça-música de onde nunca mais se quer sair.

Então se pensa em gozo e riso interno:
“Ah! Que ternura falante! A perfeição existe e acabei de descobri-la!”
E te sentes engrenagem especial da máquina vida
E re-conheces teu lugar no mundo
Co(n)-jugando-se presente-mais-que-perfeito
Verbo cósmico plenificando-se em todas as dimensões de tua carne!

Mas eis que tua humanidade te cobra lugar
E, mergulhado no mais profundo senti(n)do humano,
Divinizando-se pois por assim pleno,
Falta-lhe a coisa inacabada
E tu pensas: “Ainda não aprendi a viver.”

E não aceitas a felicidade que lhe é dada gratuita
Presente presente dos deuses
Tu, co-criador da criação primeira
Livre partícipe da construção maior
Te inquietas e te faltas a ti mesmo...

E de não-ser vais-te ausentando lenta-mente
E te remetes de olhar longínquo ao teu pretérito imperfeito
E de modo conjuntivo caminhas sozinho ao encontro de teus ex-nadas
E uma doçura-saudade te tomas ali e... já não mais estás...

Aprende-se muito cedo que dois perfeitos não se beijam
Que a perfeição co(n)junta se forma pela união de imperfeitos
É o diferente que a alma busca para compor harmônica sua paisagem
Contraste final que pleni-fica o belo na vida...
O radiante-sorridente ipê amarelo no expressivo cerrado brasiliense!

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