sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Dissolução tântrica


"Meu corpo já destruiu a ilusão de uma consciência de minha percepção com as coisas. Entre mim e elas, há, doravante, poderes ocultos, toda essa vegetação de fantasmas possíveis."
(Merleau-Ponty in "O visível e o Invisível", São Paulo: Perspectiva, 2003, p. 12)
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A máquina do mundo não está nos teus olhos
O turbilhão do tempo tiquetaqueia no pulsar cardíaco...
Que engrenagem é você?
O mundo te precisa?
Para o quê?
Nos ciclos cósmicos destas luas
Os rios que menstruam quase secam antes de chegar ao mar...
E quanto de mar cabe no teu diário amar?
Quanto de infinitude abarcas em teu ser?
Com que malemolência e dança tu embalas o bebê mundo?
A onda se doa à praia e morre no beijo da areia
Mas a onda só vai porque sabe que é mar
Que perder seiva e suor só te faz viver mais!
E de tudo cá estamos eu e o horizonte co(n)fundidos num só
E tempo e espaço não existem mais
Tudo é canto de alma sereia
Dissolução tântrica, orgasmo de Yemanjá!

😌🌊
 💫




quarta-feira, 1 de março de 2017

MIRAGEM

Leve, leve
Vida, leve!
Leve os sonhos que me incitas!
Deixe-me dura.
Levedura.
Todos se levam.
Eu sigo dura.
Eu peso.
Mil quilos de lucidez. 

Farseira!
O brilho da vida é como a cerveja:
Tira teus pés do chão
Pra te jogar no abismo.

Tampai de volta esta anestesia.
O pote de sonhos é pura fantasia.
Um gole de fel de realidade
Enquanto aperto o passo que a(tra)vessa a cidade.

Juliana Ponciri, 01/03/2017.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Cotidiana

Terra
Tocar
Cuidar
Pouso
Re-pouso
Acolher
Peito
Pulso
Passo
Junto
Ficar
Estar
Ser
EntardeSer
AnoiteSer
Cafuné
Ternura
Sentimento
Pele
Bem querer
Entrega
Alma
Aderência
Foco
Serenidade
Segurança
Conexão
Sonhos
Corpos
Consciências
Coração
Latências
Riso calmo
Paz.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Graal

Estou cercada de escancaradas respostas veladas
Símbolos e fatos significados
Cor-relações no arco-íris de minhas sinapses!

Avante! Diz o passo.
Re-tenha-se, o bom senso.

É preciso olhar de fora pra entender o dentro que vivemos.

Sair de si...
Mas o que é um "si"?
Quantos se's habitam em um si?
A condição é frágil, sensível e sempre humana.

Conectar-se...
Elohim... Tantos e todos nós!

Será que posso ser mais um co(ns)ciência a re-ssigni-ficar?
Que semi-ótica posso ser nesta órbita louca a girar?
Como traduzir a est-ética que vivo?

Zen-ser...
PertenSer...

Teu Graal me basta.



sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Giro

A Terra vai girando sob meus pés
Sobre minha cabeça
Dentro de mim
Dentro de Deus
A Terra
Eu.

Dentro do corpo do mundo
Dentro do corpo de Deus
No ventre de tudo que respira
Centelha ínfima
Pedindo vez.

Onde estão teus olhos que não vê?
Onde estão teus ouvidos que não escutam?
Por que tuas mãos se cegaram para o braile do belo?

E a dança segue frenética e entorpecida...

Me nausea o mundo que muitos escolhem.
Como respeitar a escolha do outro em destruir-se?
Aniquilo-me.

És nada, Juliana, ficai com teus nadas.
Deixai que a verborragia do mundo se entenda.
Teu silêncio não pode fazer revolução.
Sereniza teu coração e recolha-te.

Paz. Brisa. Centelha. Vacuidade.

Transito.
Transitamos.



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Não há romantismo em Marte


Vivo num planeta em forma de olho
Mesmo à noite, as pálpebras nunca cerram
E a visão nunca é formada de dentro pra fora
Os círculos de imagem são viciados
Pupila sempre dilatando para os fenômenos de fora
Asteroides e estrelas sempre mais apelativos
Ininterrupta dança química!

Estas explosões e aderências são artificiais?
Sou eu artificial?
Tão efêmeros e inconstantes como tais fenômenos
É a natureza volátil de onde piso...
Como realizar-me Terra em ti , ígneo Marte?

A brasa, a lava, alarga... vazios, queima sonhos...
Do teu vermelho o meu passou longe...
Ser estrela no sistema errado
Montar de Vênus um cavalo alado
E fugir desta espiral!
Faísca de poeira será meu rastro
Via Láctea, tchau tchau! 

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Juliana Ponciri, 25-10-2016.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Vida Quente

O gris do tempo
O amargo das horas
O fosco embaçando os olhos..

As paisagens mesmas:
Mil rostos e nenhuma centelha. 
Tudo gente morta!

Cá estou eu também: 
Uma morta que pensa.

Por que caio em lugares de gente sem alma?

Período purgatório...
Quando é que a vida chega?
Ou quando cessa de vez...

Ar! Please.
Ar para meus pulmões cheio de lágrimas!
Luz para minhas células!

Vem, vida, sái do onírico!
Irrompa esta realidade!
Quero beijar-te a face rubra e cândida.

Saia. Entre. Seja ar!
Seja amar! Me águe, me regue, me alimente
Vida quente, me dance, me voe, me movimente!

Juliana Ponciri